quarta-feira, 22 de abril de 2009

Bertold Brecht

O alemão Bertold Brecht(1898-1956) foi um teórico que praticamente antagonizou com Stanislavski, tornando-se um dos pilares de sustentação das artes cênicas no tocante à interpretação e a mentalidade mística a respeito da arte dramática. Seu principal livro "Estudos sobre teatro", de imprescindível leitura para aqueles que pretendem seguir na carreira artística, demonstra passo a passo sua visão sobre o mundo naturalista (Stanislavskiano), que pretende conquistar o público com o sonho, o fingimento e o jogo de faz-de-conta, enquanto que, para Brecht a necessidade maior daqueles que assistem um espetáculo, é absorver a mensagem emitida pelos artistas e não confundir a ficção com a realidade. Para conseguir que o público absorva a mensagem do espetáculo, não se iludindo com a realidade do contexto, Brecht propôs o afastamento do público em relação ao que ocorre no palco. Esse afastamento não se realiza fisicamente e sim emocionalmente, de forma que o espectador não deve envolver-se com o espetáculo, e sim, manter a imparcialidade e a postura crítica diante dos acontecimentos expostos no palco. Para constituir esse afastamento, tudo aquilo que Stanislavski propôs em sua teoria cai por terra, a começar com o cenário e a iluminação, que segundo Brecht, não devem convidar o público ao sonho e sim a certeza de que tudo que se passa no palco é uma mentirinha propositada.
Sobre a teoria do distanciamento do público em relação o que acontece no palco, Brecht elucida:
“ Os esforços do ator convencional concentram-se tão completamente na produção do fenômeno psíquico da empatia, que se poderá dizer que nele, somente se descortina a finalidade principal de sua arte (...) a técnica que causa o efeito do distanciamento é diametralmente oposta à que visa a criação da empatia. A técnica de distanciamento impede o ator de produzir o efeito da empatia”
Porém, Brecth não descarta totalmente o uso da empatia por parte do público. Para o teórico, o ator deve passar a informação com a mesma empatia que uma pessoa passa uma informação cotidiana. Afinal, quem fala quer ser escutado, e para que isso ocorra o emissor deve abordar os assuntos de uma maneira clara e objetiva para que o receptor queira escutar, utilizando-se do recurso da empatia somente para prender a atenção do receptor. Quando uma pessoa é atropelada, por exemplo, alguém conta esse fato para outra pessoa, esse alguém procurará representar essa ou aquela personagem para mostrar o que aconteceu, de forma que, para isso, sem tentar induzir o receptor a uma ilusão de que sua representação é real. O uso da empatia está justamente na forma natural que o emissor busca chamar a atenção do receptor, com pantomima, com o movimento escrachado, com a dor exagerada, com os movimentos trocista e brincalhões, ou sérios e pesarosos, mas sempre no âmbito das informação clara, simples e objetiva.
Para Brecht, o ator consegue distanciar o público, distanciando-se também de sua personagem, buscando representá-lo da maneira mais fidedigna possível, porém mantendo suas prerrogativas em relação a sua personagem, sem deixar de pensar em nenhum momento em suas próprias aspirações , críticas e sentimentos. O ator deve ser profissional o bastante para contribuir sempre para o crescimento de sua personagem independente do que pensa a respeito dela, de forma que, para alcançar a perfeição na interpretação, o ator deverá se ater ao que Brecht chamou de “mesa de estudos”, rejeitando qualquer impulso prematuro de empatia com sua personagem, buscando compreender sua personagem, como um leitor que lê para si próprio, em voz baixa, e não para os outros. Para o teórico as primeiras impressões do ator a respeito da personagem são demasiadamente importantes, pois serão essas as impressões que os espectadores terão quando virem o espetáculo.
Brecht criou o método de “determinação do não antes pelo contrário”. Para conceber melhor o propósito de sua personagem e passar essa informação da melhor forma possível para o público, o ator deve compreender que para cada ação, há um movimento contrário que deve ser previsto. Ex: “Se a personagem anda para direita, é porque ela não anda para a esquerda”. Esse só há de se perguntar: “ Por que minha personagem não anda para a esquerda”. O que a leva nesse momento a andar somente para a direita?”. Para Brecht é importante que o ator saiba que, no palco, ele é apenas um artista que está interpretando uma personagem, ou seja, um intérprete que mostra a personagem, mas não a vive, que tenta interpretá-la da melhor maneira possível, mas que não tenta persuadir-se (tampouco os outros) de que é a própria personagem. Dessa forma, o ator em cena não é Otelo, nem Hamlet, nem Lear e sim um artista que os representa da melhor maneira possível, que dá ao público a chance e o direito de tomar partido, de criticar, de conceber um idealismo sobre as personagens de maneira própria. Cabe ao ator, no palco, propor um debate e não debater.